Muitos de nós, ou talvez não, revivemos esta semana, momentos de outrora, feitos presente.
Um misto de sentimentos: medos, anseios, sonhos de gente quase “grande” , um nervoso miudinho, que dá um nó na garganta…. O PRIMEIRO GRANDE DIA DOS VERDES ANOS, de então: EXAME DA 4ªCLASSE!
Recordo com um laivo de saudade e ternura esse dia. Para mim, tal como para a maioria dos alunos, à época, era dia de festa. Se por um lado era o corolar de quatro anos de trabalho bem “à séria”, era também o primeiro traço a carvão, na tela do sonho de muitos de nós, era o primeiro passaporte para uma vida diferente, vida de” gente grande”, vida que alguns de nós, muitos felizmente, acabaríamos por alcançar, sonhos que começavam a crescer, caminhos por desbravar, cuja enxada queríamos conquistar.
Éramos simplesmente crianças de 9/10 anos.
Nesse dia por tradição era tirado um retrato, a preto e branco, (claro) que gravaria para mais tarde recordar, os rostos de alunos e professores dessa classe de meninos, que nesse dia receberia o titulo de “crescidinho” ao qual que muitos de nós decerto já perdemos o “norte”, mas que, qualquer dia por um qualquer motivo, nos poderá cair nas mãos como presente divino, revelando os rostos de meninos e da Srª Professora, num papel que o tempo se encarregou de amarelecer, tal como hoje nossos rostos que também o tempo se encarregou de embaciar.
Também por tradição, e porque a vida assim obrigava, (vaidade era luxo), era dia de roupa nova. As meninas estreavam um vestidinho e uns sapatinhos de verniz, cabelos entrançados, ou uns rabichos, soberbamente engalanados com uma fita, desfilavam direitinhas e nem brincavam com medo de amarrotar o vestido. Os rapazes trajavam de calça ou calção vincados, papillon ou gravatinha e pela primeira vez abrilhantavam os cabelos, à homem, e também eles se coibiam de jogar à bola ou berlinde, não fora a calça desvincar.
Hoje, a mística do exame renasceu para os mais pequenos e quis eu, que à semelhança de um ano já longínquo, se registasse também esse momento, não vivido pelos pais destes alunos, mas pelos avós certamente, gravando, agora a cores, os rostos viçosos dos meninos para mais tarde recordar, se for caso disso.
Diferenças?! Apenas e só na roupa e atitudes…. Hoje, FELIZMENTE, há mais liberdade e àvontade, o resto é tudo igual. Talvez os sonhos não sejam os mesmos, pois o contexto é bem diferente, apesar de pouco auspicioso, mas o facto é que hoje, tal como ontem, SÃO APENAS CRIANÇAS, criaturas maravilhosas, com inocência perene que por força das contradições e atropelos da vida inexoravelmente se transformarão em homens e mulheres, diferentes, mas desejo eu, com o mesmo coração de hoje, onde a tolerância e poder de perdoar e compreender fazem deles uns seres maravilhosos.
E eu,…. a quem foi confiada a instrução e educação(parte), saio das suas vidas com a consciência tranquila e sentimento de dever cumprido, com muito orgulho destes meninos hoje, homens e mulheres amanhã, a quem acredito ter deixado um pequeno legado, que um dia será recordado, tal como eu ainda hoje sinto em relação à minha professora.
Este é o meu ultimo 4ºano, presente, o futuro o dirá, quem sabe outros virão, mas tal como me aconteceu em tantos ciclos por que passei ao longo da carreira, levarei uma grata e já saudosa recordação de todos eles.
Desde os meus anos de escola primária que me lembro e, todos mo recordam, de querer ser professora, tive a sorte de os meus pais, a quem sempre agradecerei, me terem conseguido realizar o sonho, que era meu e deles também, acreditando sempre que, ajudar uma criança a florir era uma graça divina e, assim pautei minha vida.
Deste modo termino a pintura de uma tela que comecei há muitos anos atrás com um leve traço a carvão, agora pincelada a cores. Será o meu legado ao museu chamado vida, com sombras e brilhos de luzes que advirão dos êxitos e felicidades de “gentes” que me confiaram, mas que serão sempre vossas, o retrato da família, que é e será sempre a pedra basilar da sua existência. A mim coube-me o papel de “mestre” e qual abelha na colmeia está chegando a hora de passar o distintivo.
Sejam Felizes!